A construção


Responsável técnico pela construção da igreja SãoFrancisco, o engenheiro civil Marcelo Galinberti conta como se deu a edificação de uma das mais belas igrejas do Distrito Federal.

Repórter – Porque você foi convidado para construir a igreja São Francisco?

Marcelo – Sou diretor de licenciamento de obras da Administração Regional do Recanto das Emas, responsável pelas obras públicas licitadas nessa região administrativa. Sou também amigo do padre Geovani, vigário da paróquia São Miguel Arcanjo, à qual está vinculada a capela de São Francisco de Assis e coordeno a construção de todas as obras dessa paróquia. Então o padre Geovani me convidou para mais esse desafio.

Repórter – Você assumiu a obra desde o início?

Marcelo – Nós chegamos aqui em 2002 e no local havia apenas o morro. O padre Geovani me mostrou um rascunho feito a lápis, baseado no qual começamos a obra. Trouxemos um trator de esteira da Administração Regional do Recanto das Emas para fazer a terraplanagem. Cortamos a parte da frente do morro e com esse material aterramos a parte dos fundos, a fim de nivelar o terreno. Não tínhamos um levantamento topográfico por isso fizemos tudo no ‘olhômetro’. Sabíamos apenas a área em que seria implantada a edificação. Um mês depois o projeto arquitetônico foi concluído, daí pudemos implantar as fundações.

Repórter – Que sistema de fundação foi usado?

Marcelo – As fundações foram feitas todas em tubulões escavados manualmente. O solo aqui tem muita pedra e os tubulões são rasos, com no máximo dois metros e meio. Os da entrada, que suportam o peso da torre, têm diâmetro de 80 centímetros. Sobre eles existem três lajes. O problema maior é a ação dos ventos que aqui são muito fortes.

Repórter – Aqui é um local isolado e no início o acesso era precário. Como eram trazidos os materiais, água, energia elétrica e pessoal, necessários para a construção?

Marcelo – A grande dificuldade que tivemos aqui foi o isolamento. Não tínhamos água e nem luz elétrica. Arranjamos com o Silvano, hoje falecido, uma pipa rebocada por

trator que ficou à nossa disposição. Trazíamos a água da chácara do Nonato. Depois a CEB trouxe a luz até mais perto e nós estendemos um cabo para trazê-la até aqui. A mão-de-obra foi toda contratada por mim, no Recanto das Emas e na Samambaia. Tínhamos problema de transporte. Muitas vezes eu mesmo trazia e levava o pessoal. As dificuldades foram grandes, mas em pouco mais de dois anos a obra estava concluída.

Repórter – Como foi a relação com a comunidade?

Marcelo – Melhor não poderia ser. Se não houvesse essa parceria eu teria desistido da empreitada. Quando eu falava que iríamos trabalhar em Casa Grande meus funcionários não queriam vir, porque era muito isolado, não havia como comprar um pão. Eles não queriam dormir aqui no barraco de obra, por falta da luz elétrica e medo de assaltos. Se os chacareiros não nos tivessem fornecido água, luz e dado todo o apoio necessário, nós não teríamos conseguido nada.

Repórter – E hoje, diante do resultado, qual é sua conclusão?

Marcelo – É um sacrifício que valeu a pena. Sobre o morro que encontramos ao chegar aqui, hoje vemos esta obra que é símbolo de Casa Grande para o Distrito Federal e, futuramente, para o Brasil. Só tenho a agradecer ao padre Geovani, ao professor Aníbal, ao Carlos Alberto e vários outros (alguns já falecidos), pelo apoio e oportunidade que nos deram. Eu pedi para desistir da obra pelo menos umas cinco vezes e eles me convenceram a continuar. Construir uma igreja é diferente de construir um prédio comercial ou habitacional. Nela as pessoas se reúnem para se aproximar de Deus.

Repórter – Poderia falar um pouco sobre você?

Marcelo – Sou engenharia civil formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, na turma de 1985. Vim a Brasília em 1992, para participar da construção dos CIAC’s (hoje CAIC’s), na época do governo Collor. Meu contrato era de apenas um ano, mas já estou aqui há 14 anos e bem adaptado. Faço um trabalho de parceria com a igreja católica, pelo qual executo as obras da paróquia São Pedro em Taguatinga Sul, no Recanto das Emas e do seminário Nossa Senhora de Fátima, no Lago Sul.

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