Luciano Shuberth Perini é aposentado como engenheiro elétrico de FURNAS. Mora em Casa Grande desde 1982. Participou da elaboração do estatuto da associação, interveio no processo de implantação da rede elétrica e telefônica. Realizou pesquisa que fundamentou a implantação do nível médio na Escola Classe Casa Grande. Repórter – Poderia nos contar sobre sua participação no movimento comunitário e como você vê hoje Casa Grande? Perini – O Aníbal tinha construído a casa na chácara dele. Um dia publicou um comunicado convocando os moradores para uma reunião a fim de discutir rumos para Casa Grande, criar a associação, etc. A gente se reuniu pela primeira vez na casa dele e criamos uma comissão que seria o embrião da associação. A partir daí começamos a estruturá-la em reuniões periódicas com um grupo relativamente pequeno. Eu morava na vila residencial de Furnas, hoje Samambaia, e na minha casa fizemos a minuta do estatuto elencando um rol de atividades a serem efetuadas. Ganhamos a chácara para a associação e partimos para edificar as obras que hoje lá existem. O primeiro presidente da associação era engenheiro civil e fez as plantas dos primeiros prédios. Nosso pensamento esteve sempre bem à frente. Repórter – Como aconteceram as melhorias estruturais? Perini – Tentamos junto ao governo a implantação da rede elétrica, mas não conseguimos. Acionamos então a comunidade. Cerca de 130 proprietários aderiram. Contratamos uma empresa que começou o serviço, mas logo passou para outra empresa. No momento da inspeção a CEB reprovou a rede alegando que estava fora do padrão. Criamos uma comissão técnica para avaliar a obra e fomos discuti-la com os diretores da empresa que havia construído. A empresa nos deixou sem opção: ou aceitávamos a rede como estava ou paravam o serviço naquele instante. Muitos chacareiros pararam de pagar as parcelas. Negociamos e eles retomaram a obra de acordo com as exigências da CEB, mediante a promessa de voltarmos a pagar. Acionamos novamente a comunidade. No trabalho comunitário as coisas crescem numa progressão geométrica, uns motivam os outros. Repórter – Então concluíram a obra e a luz estava feita? Perini – No final ainda havia coisas fora do padrão. Para economizar, aproveitaram materiais inadequados e colocaram os transformadores longes um e outro. Então a associação fez a seguinte argumentação política: a CEB recebe a rede de bandeja, porque não assumi-la assim? Mobilizamos políticos para que intercedessem. Certo dia nos chamaram para uma reunião na qual assumiram a rede. A partir daí a coisa fluiu. Repórter – Funciona bem até hoje? Perini – Recentemente, em função da freqüente queda de energia, o que acarretava prejuízo especialmente para os produtores, foi feito uma revisão em toda a rede, que estava bastante precária. O sistema de fios foi substituído por uma rede compacta e hoje atende também chacareiros fora de Casa Grande. Repórter – Você era o diretor técnico da associação e, na sua gestão, implantar também o sistema de telefonia aqui no núcleo rural. Foi fácil? Perini – A comunidade pedia telefone. O Aníbal me chamou para ser novamente diretor técnico da associação e me incumbiu de resolver o problema da telefonia. Enviamos vários ofícios à Telebrasília, mas eles sempre alegavam outras prioridades. Quando o Coronel Danton assumiu a presidência da Telebrasília, nos conheceu e ficou amigo da gente. Em atenção à associação implantou vários orelhões, mas a rede era bastante precária. Eu conhecia muitos técnicos da Telebrasília que vieram tomar pé da situação. Melhoramos o projeto, mas a CEB precisava fazer ajustes na rede elétrica para que pudessem instalar junto a rede telefônica. Depois de ajustar todos os acordos técnicos entre a CEB e a Telebrasília falei para o Aníbal: ‘o caso agora é político’. O Aníbal foi aos órgãos com o boletim debaixo do braço e fez com que descobrissem Casa Grande. Dentro de seis meses a rede telefônica estava pronta, em fibra ótica, de alta velocidade. Na região a única área atendida com esse tipo de rede é Casa Grande. Repórter – As ações comunitárias beneficiam além dos limites de Casa Grande? Perini – Casa Grande exerce influência benéfica sobre Monjolo, Ponte Alta, Olho d’Água, Vargem da Benção, etc. Para ter uma idéia, quando existe algum imóvel à venda nesses locais, eles anunciam como sendo Casa Grande, porque valoriza mais. Nossa associação já nasceu forte, dirigida por pessoas de luta. Repórter – Como foi a pesquisa que você realizou para justificar a implantação do curso de nível médio na Escola Classe Casa Grande? Perini – O filho do meu caseiro fazia o segundo grau no Gama e foi reprovado. Perguntei o porquê e ele listou uma série de dificuldades: transporte, entrosamento, incompatibilidade de horários, etc. Perguntei se haviam outros daqui que foram reprovados. ‘Todos de Casa Grande que estudam no Gama estão sendo reprovados’, ele respondeu. Procurei o Aníbal para tratar do assunto e ele me pediu um texto a fim para publicar no boletim. Para escrever eu precisava de dados. Fui a campo em busca de informações mais seguras. Procurei os professores daqui e do Gama. Peguei as fichas dos alunos e constatei que apenas 10% dos alunos de Casa Grande eram aprovados. O texto foi publicado no boletim e serviu para alertar o pessoal da Secretaria de Educação. A secretária Eurides Brito acionou a coordenadora da educacional do Gama que veio se reunir com a comunidade. Os alunos reprovados deram depoimentos. Tudo o que havia escrito foi comprovado. Anunciaram que iriam resolver o problema e implantaram o segundo grau na nossa escola. Repórter – Quem é o Luciano Shuberth Perini? Perini – Nasci no interior de São Paulo e vim para Brasília estudar engenharia elétrica e telecomunicações na UnB. Além de engenheiro gosto muito de música. Sempre convivi com músicos. Meu avô, que veio da Itália para trabalhar como ferreiro em São Paulo, também era músico, tocava bombardino na banda da força pública de São Paulo. Meu pai foi maestro e trompetista. Minha mão era professora de piano. Já que minha esposa, a médica sanitarista Neusa Maria Sosti Perini, não me proíbe, eu toco piano. Repórter – Encerrou-se a entrevista com acordes de músicas clássicas e populares. |