No seu governo, Juscelino Kubitschek se prontificou a fazer ‘50 anos em 5’. Este pensamento contagiou os que vieram construir Brasília e trazer o progresso para o Controeste. Mas, apenas 20 anos depois de inaugurada, ali, ao lado da sede do poder, havia uma comunidade rural fadado a esperar 250 anos pela chegada da energia elétrica, tão necessária ao progresso. O governo já não era mais o mesmo. Aníbal – Nossa primeira ação comunitária foi correr atrás da energia elétrica. Estivemos na Cooperativa de Eletrificação Rural de Brasília (COERB), que não nos apoiou. Fomos então para o Grupo de Eletrificação Rural do Ministério da Agricultura (GER), onde nos receberam muito bem. O chefe do departamento disse que poderia nos ajudar, mas tínhamos que entrar na fila. Achamos justo e democrático esperar a nossa vez. ‘Mas tem outro detalhe’, disse ele: ‘vocês terão que esperar 250 anos para serem atendidos’. Eu ri! 250 anos não interessava nem para mim e nem para os meus netos. Foi assim que decidimos formar realmente a associação e, com o apoio da Emater, começamos a trabalhar por conta própria. Repórter – A chegada da energia elétrica representou um avanço significativo para a comunidade. Como se deu essa conquista? Aníbal – Como a gente não conseguiu a energia elétrica por meio dos órgãos competentes, pois não podíamos esperar 250 anos, decidimos nos reunir para nós mesmos fazer. Contratamos uma firma que hoje nem existe mais e começamos a obra. Demorou três anos e meio para fazer a rede. A certa altura a firma quebrou e ficamos numa situação difícil, pois já havíamos colocado bastante investimento. Mas conseguimos uma segunda firma de eletrificação e então, no dia 6 de fevereiro de 1986, comemoramos a chegada da energia elétrica com uma festa magnífica. Inauguramos a rede que havíamos construído e doamos para o governo. Dois meses depois o governo proibiu de usarmos a energia, baseado no Decreto 8.690. Muitos companheiros ainda não haviam puxado a energia até suas casas. E a ordem era: ‘Quem ligou, ligou. Quem não ligou não poderia mais ligar’. Na época ainda não havia a Câmara Distrital e quem tomava conta das coisas do Distrito Federal era uma comissão do Senado Federal. Era o começo da corrida da classe média que pagava aluguel, em busca do seu lugar ao sol nos condomínios. O governo foi radical, baixou o Decreto 8.690, que considerava tudo irregular. Nós batalhamos durante anos para reverter essa situação e vencemos alegando que a energia elétrica não era título de terra. |