Falou-se da escola, eletricidade, asfalto, agroindústrias, turismo, meio ambiente, segurança, da Igreja São Francisco, etc. Outro fator importante para manter a coesão, elevar o ânimo da comunidade e atrair visitantes, são os eventos. Em Casa Grande eles se repetem todos os anos e tendem a se tornarem tradicionais no Distrito Federal. Repórter – Como são idealizados e realizados os eventos em Casa Grande? Aníbal - Sou bastante conhecido entre as autoridades do Distrito Federal, por dois epítetos que muito me honram: primeiro que eu sou o líder mais ‘pidão’ de Brasília. Porque eu corro muito atrás e aproveito todas as oportunidades para cobrar. Isso me honra porque o que peço não é para mim e sim para a comunidade. Outro epíteto é que sou um líder festeiro, que gosta muito de festas. Pois este foi o caminho que escolhemos para realizar nossos empreendimentos. A festa tem uma porção de vantagens e congrega. Para realizá-la com mínimos recursos temos que utilizar nossa inteligência e a criatividade da comunidade. Monta-se uma porção de comissões que se encarregam dos vários aspectos da realização. Isso gera amizade, fraternidade e muito amor pelo que fazemos. As festas servem para unir a comunidade e divulgar o Núcleo Rural Casa Grande. As pessoas de fora observam o trabalho da gente e reconhecem nossas realizações. Repórter – No início realizavam as festas juninas. Como eram essas festas? Aníbal - As festas juninas começaram aqui na minha chácara, depois foram transferidas para o clube da ASSEJUME e, finalmente, para a escola. Fazíamos todos os anos três dias de festa junina com as tradicionais quadrilhas. Realizávamos concursos para os quais reuníamos até 14 quadrilhas que vinham de várias partes do Distrito Federal. Nessa época ocorreu nossa aproximação com o empresário Paulo Otávio, que hoje é senador da república. A mãe dele, a dona Vilma, admirava muito o nosso trabalho e, por meio da fundação Paulo Otávio, conseguíamos os ônibus que traziam as quadrilhas. Vinha muita gente de fora. Ainda não tinha nada asfaltado. A CEB iluminava o ‘arraiá’. O DER jogava água no local e na estrada para diminuir a poeira. Etc. As festas começaram a criar uma relação de amizade entre nós e os órgão públicos. Desde essa época Casa Grande conquistou bastante divulgação na mídia local, que sempre nos deu muito apoio. Repórter - Hoje trocaram as festas juninas pela festa de São Francisco. Como foi isso? Aníbal - A construção da igreja motivou a turma a fazer festas para arrecadar fundos. Nós estamos numa área rural e aqui não tem concentração de população, o que não queremos mesmo. A comunidade é relativamente pequena, mas bastante unida e consciente. É patriótica no sentido de amor à terra, amor aos nossos valores. No ano eleitoral de 1998 nós começamos festejar São Francisco, eleito nosso santo padroeiro. Aproveitando o fato político que contagiava o Brasil, elegemos nosso padroeiro nos mesmos moldes da política. Apareceram vários candidatos: São Francisco, Santo Antônio, Nossa Senhora Aparecida, Santa Terezinha, Santa Edwirges e outros. Eu, que sou cria de Dom Bosco, defendia que ele fosse o nosso padroeiro. Repórter - Eleito o santo padroeiro lhe construíram a igreja e instituíram a festa realizada todos os anos. Quem se responsabiliza pela realização anual da festa de São Francisco? Aníbal - Até agora já realizamos três festas de São Francisco, que passou a ser a festa principal de Casa Grande e ocorre sempre em outubro. Em cada uma é escolhido o casal festeiro que se preocupa o ano inteiro com a festa. Na primeira, em 2003, fomos eu e a Dione. A comunidade nos deu um apoio muito grande. O segundo casal festeiro foi o seu Lázaro e a dona Lia. Mandamos confeccionar uma redoma com a imagem de São Francisco, que é passada solenemente a cada casal festeiro. A escolha do casal festeiro está regulamentada e pode se dar por eleição, indicação, aclamação, etc. Mas não é fácil escolher esse casal, porque a responsabilidade é muito grande. É preciso que tenha muito boa vontade e criatividade. Dona Lia e seu Lázaro instituíram um terço mensal, onde há leilões e atividades a fim de se criar um fundo para a festa. Nesse ano foi criada também a ‘Roda de Viola’, da qual falaremos depois. A escolha do terceiro casal festeiro foi bastante difícil. Até o último dia ninguém havia se disposto, então o Jairo, a Laura e a Hilda formaram uma equipe e assumiram a realização da terceira festa de São Francisco que obteve muito sucesso. Instituíram a cavalgada e conseguiram patrocínios, fundamentais para a conclusão da obra e manutenção da igreja. A quarta festa, a ser realizada em outubro de 2006, tem como casal festeiro o Ivo e a Maria. Trabalham como caseiros e são pessoas humildes, como foi o próprio São Francisco. O casal tem experiência com as festas do Divino, que sempre realizavam em sua cidade natal. Cada festa tem a cara do casal festeiro. Com o apoio da comunidade, esta também trará muitas bênçãos para Casa Grande. Repórter - Aqui há também a ‘Corrida Rural’ que, em março de 2006, chega à sua terceira edição. Poderia nos contar sobre ela? Aníbal - Insisto em dizer que em Casa Grande não existe DNA falso. A idéia da ‘Corrida Rural’ foi da Zina Barbosa, uma amiga nossa que, por motivo de saúde, se tornou uma corredora de rua. Estava fadada a perder as duas pernas, mas, com determinação e exercícios físicos, se recuperou. Tornou-se corredora e já ganhou muitas medalhas. Idealizou então essa corrida cujo primeiro objetivo é trazer os urbanos para o meio rural, a fim de curtirem a natureza. As duas primeiras corridas ocorreram em março de 2004 e em março de 2005. Contaram com o apoio da comunidade, das administrações regionais do Recanto das Emas e do Gama, de vários órgãos públicos e da mídia. A participação foi boa e a repercussão excelente. Na história do Brasil não há nenhuma referência a qualquer corrida rural. O evento chamou a atenção da equipe do Globo Rural, que deu cobertura ao vivo. A deputada Eurides Brito elaborou uma lei aprovada na Câmara Distrital no dia 6 de dezembro de 2005 e sancionada pelo governador Joaquim Roriz no dia 18 de janeiro de 2006, instituindo a ‘Corrida Rural’ e inserindo-a no calendário oficial do GDF. Para se inscrever é preciso preencher a ficha e pagar uma pequena taxa que se reverte em premiações. O percurso é de 10 quilômetros, saindo da igreja São Francisco, até a altura do Hotel Rural Criativo e retornando à igreja. O número de participantes está limitado em um mil, porque o espaço não é tão grande e a região é montanhosa. No ano passado tivemos a participação de atletas franceses e em 2006 deverão participar também os quenianos. Repórter - Por fim, vamos falar da ‘Roda de Viola’. Vocês apreciam a música de raiz? Aníbal - A ‘Roda de Viola’ veio para ficar. Em março de 2004 o Jairo e o Márcio, que são apaixonados pela música de raiz, organizaram a primeira ‘Roda de Viola’. Ela foi tão bem aceita e os cantores que participaram agradaram tanto, que a roda durou uma noite inteira, lá no salão comunitário. Aconteceu novamente em abril de 2005 e agora se prepara para sua terceira edição. Diego e Karley, Vanderley e Valtecy, Tião Violeiro e Gê Viana e tantas outras duplas nos prestigiam com sua participação. |
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