Em vez de morrer Zina Barbosa decidiu correr. Em 2003 o médico disse que ela teria apenas seis meses de vida. Mas não foi correr sozinha não, convidou outros desportistas para essa maratona que favorece a saúde e o meio ambiente. Hoje aproximadamente 1000 atletas a acompanham na ‘Corrida Rural’. Repórter – De onde você tirou essa idéia? Zina – A idéia surgiu do trabalho comunitário que eu desenvolvo em Casa Grande, juntamente com a dona Dione e o professor Aníbal. Depois de cinco anos observei que no núcleo rural faltava atividades esportivas. Não havia nenhum apoio do governo, nenhuma divulgação, nada. A população estava solta, sem projeto ou programa desportivo que a beneficiasse. Em 2003, quando participei da minha primeira corrida de rua, tive a idéia de criarmos uma corrida em Casa Grande. O seu Aníbal prontamente se dispôs a me ajudar. Quis logo marcar a data e então decidimos que a ‘Corrida Rural’ seria realizada todos os anos, no último domingo de março. Repórter – Porque ‘Corrida Rural’? Zina – Na cidade já tem várias corridas. Os eventos em geral estão voltados para as cidades. No Distrito Federal todas as cidades têm a sua corrida. Recentemente foi criada a ‘Corrida Ecológica’, que ocorre em todos os parques de Brasília. Em nenhum momento foi lembrado da área rural, sendo que ali é que precisa, porque é mais difícil para as pessoas da área rural saberem o que acontece na cidade, do que os citadinos saberem o que acontece no meio rural. Por isso propus que fosse uma ‘Corrida Rural’. Esta é a única no Brasil, mesmo sendo este um país de origem agrária. O seu Aníbal abraçou a causa o que fez com que Casa Grande fosse o único núcleo rural brasileiro a valorizar a corrida de rua. Repórter – Há quanto tempo você pratica essa modalidade esportiva? Zina – Eu nem era atleta. Minha vida era sedentária e minha saúde precária. Vivia cheia de dores, tinha fibromialgia artrite e problemas cardíacos. Em 2003 o médico disse que eu teria apenas seis meses de vida. Mas em vez de morrer, decidi correr. Quando participei da primeira corrida de rua, a ‘Corrida do Lobo’ no Guará, eu praticamente nem havia treinado, mesmo assim fiz 10 quilômetros em 1h20min. Então passei a estudar tudo sobre corridas, o que acontece com o nosso organismo, a parte alimentícia, etc. Infelizmente a alimentação adequada para o corredor é caríssima e muitas crianças pobres querem correr, mas não podem por estarem subnutridas.Repórter – Quais são as características desta ‘Corrida Rural’? Zina – O doutor Euzébio falou que é só louco que corre ali. Como nós somos sonhadores assumimos o epíteto. A corrida de Casa Grande é a mais penosa do Distrito Federal, porque a região é de morros. A largada é no alto do morro da igreja de São Francisco. Quem tem dó de si nem larga. Mas isso é que a torna diferente das demais corridas. O tratamento recebido pelos atletas por parte da comunidade faz com que se sintam respeitados e valorizados. Não admitimos elite, todos são iguais. Espelhamos-nos na maratona de Curitiba, Paraná, que é a melhor corrida que existe no Brasil. Em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, também tem uma corrida muito boa. Repórter – Como é o percurso da ‘Corrida Rural’? Zina - O percurso é de 10 quilômetros. Na largada tem uma descidinha leve e depois uma subida forte até o Criativa Hotel Rural. Dali se volta para a igreja. Perde-se a corrida na linha de chegada, porque a descida é forte e é onde muitos capotam. Mas, com a graça de Deus e de São Francisco, até hoje ninguém se machucou. Repórter – Como é a participação dos atletas? Zina – Em 2004, na primeira ‘Corrida Rural’, limitamos a participação em 500 atletas, porque consideramos o fato da pista ser estreita e o percurso muito acidentado. Em 2005 participaram 600 atletas, sem nenhum incidente. Em 2006 as inscrições foram abertas para a participação de 1000 atletas. A princípio os atletas pensavam que, por ser área rural, não teriam o conforto que têm na cidade. Mas agora eles já perceberam que o conforto é até maior. A largada é dada ao som do berrante, com o berranteiro montado num boi, para caracterizar bem a ‘Corrida Rural’. Na primeira vez os atletas se assustaram porque não estavam acostumados com isso. Mas é uma corrida muito divertida e os atletas se mantém bem humorados do começo ao fim. A maioria é do Distrito Federal, mas vêm atletas também de Goiânia, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, etc. À medida que divulgamos vêm outros de mais longe.
Repórter – Como vocês conseguiram a proeza de, em tão pouco tempo, incluir a ‘Corrida Rural’ no calendário oficial de eventos do Distrito Federal? Zina – Isso foi resultado do trabalho meu e do seu Aníbal. Com muita persistência conseguimos articular com as autoridades do governo e, no dia 19 de janeiro de 2006 foi publicada no Diário Oficial do Distrito Federal a Lei 3.471, de autoria da deputada Eurides Brito, instituindo a ‘Corrida Rural’. Esta corrida contribui para divulgar a igreja São Francisco e o trabalho social que fazemos em Casa Grande. Motiva os citadinos a conhecerem a área rural e ter contato com a natureza. Incute nos atletas a preservação do meio ambiente. É uma grande conquista para nós e para todos os atletas do Distrito Federal. Repórter – Quem é Zina Barbosa? Zina – Nasci no Distrito Federal, no dia 7 de dezembro de 1958. Fui criada aqui mesmo, no colégio salesiano Maria Auxiliadora. Formei-me técnica em contabilidade no colégio Lassale. Estudo psicologia na Faculdade Garcia Silveira. Sou funcionária pública desde 1981, sempre lotada na Secretaria de Fazenda do Distrito Federal, na carreira de finanças e controle. Dedico meus finais de semana ao trabalho comunitário. |
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