Outro assunto importante são as atividades econômicas, base de sustentação e desenvolvimento do núcleo rural Casa Grande. Repórter – Como testemunha e sujeito desse processo, o que você tem a nos dizer sobre este assunto? Aníbal – Este assunto me é muito caro ao coração. Estou aqui com um boletim Casa Grande em minha frente, que demonstrou ao governo e à comunidade em geral a nossa vocação rural. Trás nele o resultado de uma audiência pública ocorrida no dia 17 de abril de 2005, onde a comunidade consultada respondeu por unanimidade que queria permanecer como comunidade rural. No início os moradores eram extremamente pobre e desprovida de tudo. Mesmo assim se pensava em construir aqui uma igreja. Porém, decidimos colocar em prática os ensinamentos de Puebla, no México, que diz que a comunidade, antes de servir a Deus, deve ter uma vida digna e humana. Eu vim para cá com uma missão religiosa, mas quando vi que a comunidade precisava de benfeitorias materiais, nos empenhamos na implantação da rede elétrica, na construção da escola, asfalto e depois trabalhamos para tornar o núcleo rural produtivo. Repórter - E então o que foi feito? Aníbal - As chácaras aqui são Repórter – Houve muito prejuízo entre os produtores rurais? Aníbal - Ocorreu que mais de 800 mil produtores rurais quebraram, inclusive os de Casa Grande. A inflação acabou, mas as prestações permaneceram elevadas. Então ninguém teve condições de pagar. Houve até um ‘caminhonaço’ na esplanada dos ministérios, liderado pelo sindicato rural do Distrito Federal, com mais de três mil máquinas agrícolas. Na ocasião o então presidente Fernando Henrique, que se encontrava em Portugal, chamou os produtores rurais de ‘caloteiros nacionais’. Depois ficou comprovado que não éramos caloteiros. O governo fez a correção, porém já estávamos quebrados. Contudo ficou a idéia. Havia aqui uma família que produzia lingüiça e permaneceu. Hoje produzem 150 toneladas de lingüiça de porco e de frango por semana, das marcas Casa Grande, Buritis e Guimarães, comercializadas no Carrefour, Pão-de-Açúcar e outras redes de supermercados. Temos aqui também produção de hortaliças com a técnica de hidroponia, que já atingiu a marca de 5 mil pés de alface por dia. Temos aqui também a Laticínios Araguaia, que envasa mais de 40 mil litros de leite por dia. Existem também dois haras de cavalos de raça. Até o momento ainda não houve grande investimento em pomares, mas as chácaras são boas para isso. Houve tentativa de produção casada de hortigranjeiros e animais, mas ainda não chegamos a bom resultado. Tem uma indústria de artefatos de cimento, a Pré-moldados Pôr-do-Sol, voltada para a produção de postes de cerca, vasos, bancos e toda linha de produtos necessários em nossa região. Tem o Hotel Fazenda Criativa, com apartamentos, salão de festa, mini-zoológico, etc. Para nós o produtor rural é um empreendedor do agro negócio, que precisa ter a sua caminhoneta, seu computador, as máquinas, a piscina, o lazer, etc., justamente para aperfeiçoar a produção. Estão surgindo aqui também pequenos comércios voltados para o consumo interno. Repórter – Sendo o senhor profundo conhecedor do passado e do presente de Casa Grande, o que vislumbra como futuro para o desenvolvimento econômico? Aníbal – As perspectivas são preocupantes por ser uma área muito bem localizada. A ganância imobiliária sobre ela é muito grande. Nossa forma de resistir ao fracionamento das chácaras é investir no agro negócio, turismo, lazer... Na semana passada chegou uma empresária do ramo de cosméticos que pretende implantar uma fábrica que irá gerar mais de 30 empregos diretos. Como ela, outros estão se aproximando. Antes do escândalo da hantavirose, que prejudicou indiscriminadamente a área rural, tínhamos aqui 13 pesque-pagues. Só no Distrito Federal mais de 70 empreendimentos rurais foram prejudicados pela divulgação, eu diria criminosa, da campanha de prevenção à hantavirose. Ao invés de escandalosa, esta campanha deveria ter sido bem mais educativa. Voltando ao turismo, a igreja São Francisco, passou a ser um ponto de turismo religioso. Tanto o PDOT do Distrito Federal quanto o Plano Diretor Local (PDL) do Gama apontam a igreja como ponto turístico. A vocação do turismo é muito apropriada para Casa Grande. Algumas chácaras estão sendo preparadas para sediar eventos como congressos, casamentos, formaturas, etc. Essa região é propícia também à implantação de clubes, como já temos uns quatro ou cinco. Lazer, colônias de férias, esportes, arte, cultura... são atividades bem vistas aqui. Está surgindo também a cooperativa artesanal, para produzir roupas, bijuterias e artefatos, como fonte geradora de trabalho e renda. Repórter - Mas a ‘voracidade imobiliária’ é uma ameaça constante a esses projetos. Qual a possibilidade disso aqui se transformar em novos condomínios? Aníbal - A preocupação maior é que as terras estão supervalorizadas devido, sobretudo, ao próprio movimento comunitário. Mas nossa filosofia desde o início sempre foi o não parcelamento das chácaras. Perseguimos a qualidade de vida. ‘Qualidade de vida sim, parcelamento jamais’. ‘Parcelamento é crime: denuncie - 3333.5855’. ‘Fique de olho, não queremos que Casa Grande se transforme em Vicente Pires II’. Em Casa Grande não temos nenhum parcelamento e eu acho que isso vai durar bastante tempo apesar de sermos pressionados pelo Gama, Recanto das Emas e Riacho Fundo. O núcleo rural Ponte Alta Norte, que era altamente produtivo, infelizmente hoje está praticamente todo subdividido e é um mau exemplo para Casa Grande. Mas a comunidade de Casa Grande está resistindo. A audiência pública realizada no dia 17 de abril de 2005 deixou clara a vontade dos moradores e produtores daqui. Decidimos continuar como área rural. Vamos defender nossos interesses no PDOT que, em 2006, será aprovado para os próximos 12 anos. |
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