Adote uma nascente

O primeiro cidadão brasileiro a adotar uma nascente foi Paulo Roberto Santos, em 2001. Foi ele quem elaborou o projeto ‘Adote uma nascente’, posteriormente institucionalizado no Distrito Federal pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEMARH e divulgado pela ONG ambiental WWF, para todo o Brasil e pelo mundo afora.

Paulo Roberto Santos nasceu em Vacaria, Rio Grande do Sul, em 1949. Veio morar em Brasília em 1979, transferido de Salvador, Bahia. Hoje é aposentado como capitão do exército. Mora em Casa Grande desde 1989 onde, em 1995, se rendeu aos apelos do movimento comunitário que, para obter êxito, depende de pessoas como ele.

Repórter – Depois de morar em vários lugares do Brasil você adotou Brasília para se fixar. Foi por encanto ou por necessidade?

Paulo – Sou apaixonado por Brasília, cidade que me encanta. Temos aqui uma qualidade de vida incomparável e que, com a colaboração de todos, pode ser melhorada. Eu e minha esposa, a Sonia Maria Laranjeira dos Santos, baiana, funcionária pública e também aposentada, fizemos nossa opção por morar em Casa Grande em dezembro de 1988.

Repórter – Qual vosso grau de instrução?

Paulo – Eu sou formado em ciências contábeis e ela em direito.

Repórter – Por que escolheram Casa Grande?

Paulo – Pela qualidade de vida que aqui encontramos. As chácaras eram escrituradas, o que nos deixou seguros ao comprar a nossa. A vista onde moramos é maravilhosa, como você mesmo constatou, e as pessoas bastante sociáveis, independente de posto, função ou formação acadêmica. Estes foram os motivos de escolhermos morar em Casa Grande.

Repórter – Como vocês se envolveram com o movimento comunitário?

Paulo – Iniciei minhas atividades comunitárias em 1995, quando me aposentei. Comecei produzindo ovos de codornas juntamente com um grupo de oito moradores. Em minha chácara a produção era de oito mil ovos por dia, contudo, quatro anos depois encerrei a atividade. Mas permaneci no movimento comunitário porque não me satisfazia apenas dispor de uma chácara para passar os finais de semana. Qualidade de vida depende, fundamentalmente, de participação. No meio militar temos o ditado de que a gente só toma posse de direito quando ocupa o terreno de fato. Se eu não estiver aqui para respirar esse ar, ouvir os pássaros, plantar árvores, etc., é porque eu não tomei posse efetiva do terreno.

Repórter – O que você já fez pela comunidade?

Paulo – Minha primeira participação nas atividades de Casa Grande foi tomar conta da nascente do Córrego dos Pintos. Depois de uma reunião na casa do professor Aníbal me prontifiquei a recuperar e preservar essa preciosidade usando recursos próprios. O Pedro Machado, que comercializava as chácaras, cedeu uma área para a associação com a condição de que preservássemos esta nascente. Em maio de 2001 demarcamos a área e elaboramos o projeto de recuperação e preservação do Córrego dos Pintos, desde sua nascente até onde ele deságua no Ribeirão Ponte Alta. O projeto envolveu estudos, cercas de proteção, plantio de árvores nativas, bacias de contenção das águas pluviais, controle na captação das águas do córrego, definição de trilhas, apoio da comunidade e a participação da Escola Classe Casa Grande, com visitação orientada dos alunos.

Repórter – Qual é o apoio da comunidade?

Paulo – A participação fundamental da comunidade é o manuseio correto de lixos e recipientes de agrotóxicos. Contando com esse apoio demos início ao projeto ‘Adote uma nascente’, logo reconhecido pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Distrito Federal. Eu, minha família e a escola recebemos o primeiro certificado de adoção.

Repórter – Depois de pendurar o certificado na parede que medidas foram adotadas?

Paulo – A primeira foi proteger a nascente e recuperar a mata ciliar. Agora, passados cinco anos, nos preparamos para receber as primeiras visitas assistidas.

Repórter – Além de adotar a nascente você foi bastante atuante na construção da igreja São Francisco. Como você participou disso?

Paulo – Inicialmente quero falar do seu Aníbal, a quem dedico meu sincero respeito por considerá-lo o principal responsável por tudo que temos aqui. Devemos a ele essa qualidade de vida e essa filosofia que prevalece em Casa Grande. Em 2001 ele me convidou para assumir a tesouraria da associação, da qual era o presidente. Aceitei. A associação já estava juridicamente organizada, com CGC, CNPJ, inscrição estadual, etc. Dei continuidade ao trabalho regularizando os impostos e realizando balancetes mensais. O objetivo era buscarmos a transparência possível das atividades físico financeiras da associação, para alcançarmos maior credibilidade. Nos quatro anos que ocupei o cargo conseguimos grandes vitórias com a contribuição e participação efetiva da comunidade. Nesse ínterim foi construída a igreja. No dia 5 de dezembro de 2002, numa reunião na minha casa, eu, o professor Aníbal, o Vicente, o Arlindo, o Silvano e o engenheiro Marcelo decidimos concluir a obra da igreja, da qual já havia o alicerce. O Silvano, hoje falecido, doou sua caminhonete D20, com o que demos o ponta-pé inicial. Eu assumi a tesouraria da igreja e a parte gerencial da obra. Batemos de porta em porta, realizamos feijoadas, jantares, churrascos e, dois anos depois, inauguramos esta igreja que é motivo de orgulho.

Repórter – A credibilidade foi plenamente alcançada?

Paulo – Como contador, dedico muitas horas na elaboração de balancetes, relatórios e prestação de conta. A contabilidade é um instrumento de informações gerenciais. Com os registros contábeis temos condições de fazer projeções e realizá-las, mantendo o controle efetivo dos números. É um instrumento que ajuda a transformar sonhos em fatos reais. Essa transparência, sem dúvida, elevou o nível de credibilidade entre moradores e colaboradores.

Repórter – O que você vislumbra para o futuro de Casa Grande?

Paulo – Nosso projeto é continuarmos existindo como núcleo rural, porque isso trás qualidade de vida. Quero que Casa Grande, implantada entre o Recanto das Emas, Riacho Fundo e Gama, seja preservada como área verde para essas populações. O próprio governo deve regulamentar para que seja assim. Ganharíamos em turismo, preservação ambiental, saúde, prazer de viver...

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