Governos passam

A comunidade de Casa Grande se relaciona, de forma inteligente e equilibrada, com os diferentes governos legalmente constituídos. Não houve nenhum trauma na passagem do governo Roriz para o governo Cristóvão e vice-versa. Ambos são legítimos e a comunidade precisa do governo. Há um entrosamento consciente, o que é muito positivo.

Ex-governador do Distrito Federal, Cristóvão Buarque atuou nesse cargo entre os anos de 1995 e 1998, sob o epíteto de Governo Democrático e Popular. Em 2003 e 2004 foi ministro da educação. Atualmente é senador da república, eleito pelo Distrito federal.

Repórter – O que lhe vem à memória quando se fala de Casa Grande?

Cristóvão Buarque – O que me vem à mente são as visitas que fizemos a esta comunidade, as conversas, a convivência entre o urbano e o rural, a utopia que representa o projeto Casa Grande. A relação do governo foi a de ver um grupo de pessoas, o seu Aníbal é um dos líderes disso, querendo encontrar solução não apenas para o problema da habitação, mas também da educação, meio ambiente, etc. Uma experiência que ia além da casa, da moradia, e levava em conta soluções para o habitat, onde as pessoas pudessem viver com qualidade de vida.

Repórter – Quais as ações do governo Cristóvão em Casa Grande?

Cristóvão Buarque – Que eu me lembro bem foi a parceria que formamos com a comunidade para implantar o asfalto, a ampliação da escola e o salão comunitário, construído com recursos do orçamento participativo. Mas, sobretudo, o respeito que nós tivemos pela comunidade local.

Repórter – A implantação da escola é fator preponderante para Casa Grande. Como defensor estrênuo da educação no Brasil, o que tem a dizer sobre isso?

Cristóvão Buarque – Meu depoimento é a lembrança da alegria que senti no dia em que fomos lá inaugurar a ampliação da escola que surgiu da comunidade. O governo ajudou, construiu parte do prédio, colocou professores. Mas o que me lembro bem é da grande alegria que tive naquele dia.

Repórter – Houve em Casa Grande uma audiência pública para discutir o Plano de Desenvolvimento e Ordenamento Territorial (PDOT) do Distrito Federal. Como você vê a relação entre as áreas rurais e urbanas (campo e cidade) em Brasília?

Cristóvão Buarque – A concepção de Brasília era que as cidades fossem separadas umas das outras por áreas verdes. Mas, lamentavelmente, o desregramento que houve no Distrito Federal ao longo desses anos fez com que Brasília esteja perdendo isso. Por causa da Estrutural, o Plano Piloto segue como cidade até Taguatinga, continua pela Ceilândia e entra no estado do Goiás. Se não tomarmos cuidado e protegermos o restinho que há, em experiências inclusive como a de Casa Grande, a gente vai ter Brasília transformada em uma São Paulo, Rio de Janeiro, uma dessas metrópoles brasileiras onde só tem asfalto. Onde a gente perdeu a dimensão humana porque não soube conviver com as áreas verdes. Por isso, na hora de discutir o PDOT, tem que se tomar cuidado para evitar que isso aconteça. Fazer com que algumas áreas no Brasil sobrevivam no casamento cidade-campo.


Repórter – Qual é a sua proposta para que isso aconteça?

Cristóvão Buarque – A proposta é democratizar no sentido de ouvir o que as pessoas querem em cada área, mas ao mesmo tempo mostrar que existe um interesse maior do que cada área. Mostrar que democracia não é apenas ouvir a comunidade local. A democracia leva em conta a responsabilidade de cada local com o todo. A sensação é de que vivemos em um condomínio. A quadra, a cidadezinha onde vivemos é como se fosse o nosso apartamento, no qual você não pode tocar fogo nos móveis, deixar a torneira aberta ou mesmo colocar o som muito alto. Você tem que respeitar o conjunto. O Distrito Federal é um conjunto. É preciso ouvir cada comunidade local, mas cada comunidade local precisa saber que existem regras às quais ela tem que se submeter para que o todo funcione bem.

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