Pé na estrada

Em Casa Grande todos participam, conforme com sua vocação e interesse, para tornar a vida melhor, mais fácil, mais agradável. A contribuição de José Alberto Silva de Ávila foi fundamental na implantação do asfalto.

Repórter – Quando você veio morar em Casa Grande?

Zé Alberto – Em 1994. Quando comprei minha chácara ela já estava formada. Eu conhecia o núcleo rural e gostava muito daqui. Mas o caminho, quando não havia muita poeira, era de barro. Então criamos um movimento entre os proprietários que não queriam esperar pelo governo e decidimos implantar o asfalto na estrada principal, por conta própria. Em 1995 eu liguei para o seu Aníbal, que era o presidente da associação, para tratar do assunto. Ele me disse: ‘o Zé Carlos, do hotel Criativa, me procurou na semana passada para falar disso. Conversa com ele e vamos criar um projeto’. Liguei para o Zé Carlos e ele me disse que já tinha feito um levantamento. ‘A empresa mais barateira é a Ser Terra. Para asfaltar cinco quilômetros, a R$ 7,00 o metro quadrado, vai nos custar R$ 350.000,00. O seu Aníbal disse que aqui tem aproximadamente 130 proprietários, o que dá mais ou menos R$ 2.600,00 para cada um’.

Repórter – No papel estava tudo resolvido. E na prática?

Zé Alberto – Era o início do plano real e não havia inflação. O seu Aníbal se ausentou um tempo por problemas de saúde, então eu e o Zé Carlos convocamos os proprietários das chácaras. Na primeira reunião apareceram umas 30 pessoas. O projeto era ousado e gerou diferentes opiniões, mas todos gostaram da idéia. Formou-se uma liderança e cada líder ficou com uma lista de 10 proprietários para cobrar as cotas.

Repórter – Todos aderiram prontamente?

Zé Alberto – Com metade dos proprietários não tivemos nenhum problema. Os restantes tinham muito interesse, mas alegavam falta de dinheiro, ou estavam vendendo a chácara, enfim. Ao retornar, o seu Aníbal considerou que o processo já estava bem adiantado e propôs que procurássemos o governo para formar parceria. O presidente do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) do Distrito Federal, sob o comando do Governo Democrático e Popular, achou louvável a idéia. Recentemente haviam lançado o ‘Orçamento Participativo’ e esta era uma iniciativa da comunidade. O GDF se dispôs logo a elaborar o projeto técnico, fazer o estudo de impacto ambiental (RIMA) e fiscalizar a execução da obra. Consideramos a parceria valiosa.

Repórter – Muito bem, já podiam começar arrecadar o dinheiro. Mas quem se responsabilizou por guardá-lo e efetuar os pagamentos à construtora?

Zé Alberto – As cotas eram pagas com nove cheques pré-datados. O Marcão, tesoureiro da associação, os guardava em sua casa para não precisar pagar taxas aos bancos. Conforme as etapas da obra eram concluídas, nós passávamos os cheques à Ser Terra. O Zé Carlos perdeu a paciência com o povo que demorava a pagar, então ficamos praticamente só eu e o seu Aníbal nessa luta. A obra foi concluída em seis meses. Em alguns lugares foi necessário colocar meio-fio. O seu Aníbal sempre teve transito fácil nos órgãos do governo, o que facilitou bastante o processo. Alguns proprietários se negaram a pagar se o asfalto não passasse em frente à chácara deles. Fizemos festas, bingos, recebemos doações de máquinas agrícolas, animais, etc., a fim de arrecadar fundos para pagar o asfalto. Numa reunião com a vice-governadora Arlete Sampaio, ela reconheceu nosso esforço e conseguiu que o GDF bancasse mais três quilômetros de asfalto para atender a todos.

Repórter – Valeu a pena o esforço?

Zé Alberto – O asfalto se tornou mais um marco para Casa Grande. Atraiu novos moradores importantes, como o pessoal da Castelo Forte Materiais de Construção. Os proprietários intensificaram o investimento nas chácaras que aumentaram de valor. Elevou-se a produção agroindustrial. O governador Cristóvão Buarque esteve aqui com seu secretariado, no dia 28 de abril de 1996, para inaugurar o asfalto numa festa que reuniu aproximadamente 700 pessoas. O GDF aproveitou para fazer bastante marketing em cima dessa obra, a fim de que outras comunidades aderissem à idéia. Muitos vieram nos procurar para saber como foi a experiência. Enfim.

Repórter – O que é que você produz na sua chácara?

Zé Alberto – Antes eu produzia apenas hortifrutigranjeiro. Hoje também alugo a chácara para eventos como casamentos, formaturas, etc.

Repórter – O que é necessário aqui hoje?

Zé Alberto – A conclusão da iluminação pública e o calçamento ao longo da via asfaltada. Talvez uma linha de ônibus.

 
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