Moacir Pereira Lima é extensionista rural especializado em metodologia de ensino e comunicação. Estagiou nos Estados Unidos e trabalhou na Emater por muitos anos. Nasceu no Rio de Janeiro e chegou a Brasília em 1975. Repórter – Como ocorre o seu trabalho na prática? Moacir – Na prática é você olhar uma comunidade e lhe dar orientação técnica mostrando como ela vai se transformar. Tem a parte de metodologia do trabalho e a parte de estruturação das formas de intervenção, correção, etc. Repórter – Qual é o papel da comunicação no meio rural? Moacir – Vou lhe dizer uma frase muito importante: a comunicação social que aprendi é a engenharia da transformação social. Têm engenharia para construir prédios, estradas, pontes. A engenharia que aprendi se destina à construção de indivíduos. No campo da ciência social pode se considerar instrumento para construção de obras de supra-estrutura. Não é material. Meche com o ser humano, suas emoções, suas dores, etc. Repórter – Como você vê o meio rural do Distrito Federal? Moacir – Não vejo esse meio rural consciente do seu papel. O Distrito Federal é muito pequeno e a expectativa daquilo que se plantou na Repórter – Qual é sua avaliação sobre o núcleo rural Casa Grande? Moacir – Vejo Casa Grande como um projeto de uma comunidade cidadã. Uma comunidade que sabe o que quer, porque foi educada para isso. O grande educador, o professor Aníbal, agiu no momento de ser paternalista, mas no momento certo fez fortes correções, por isso a comunidade está educada. Ela não tem instrumentos apenas para sua qualidade de vida: tem também educação para a cidadania. Isso é um trabalho que só os educadores fazem. Se você observar as demais comunidades rurais do Distrito Federal, elas têm uma estrutura de troca. Explico: um político ou uma instituição dá, mediante contrapartida, e se retira. O Aníbal não. Ele construiu junto com a comunidade cada passo dessa qualidade de vida. A obstinação do educador é fazer a felicidade do ser. Ele acredita que as pessoas podem se modificar e aplica a metodologia adequada.
Repórter – Profundo! Poderia continuar essa tese? Moacir - A comunidade de Casa Grande deveria ser objeto de estudos, não para se tecer elogio sobre ela, enaltecer egos, mas para que os governos aprendam como se faz políticas públicas. Ali são resolvidos problemas comuns das comunidades e cidades brasileiras. Geralmente os homens públicos utilizam métodos de troca. O Aníbal usa o método educacional. Ousa construir junto. Este é o grande mérito desse educador obstinado. Ele jamais usou a comunidade como instrumento promocional. Casa Grande tem liberdade para escolher seus caminhos, sejam religiosos ou políticos. Isso é uma característica latente a ser analisada. Está aí o ingrediente da educação que liberta. O cidadão de Casa Grande não discute se tem que ir por esse ou por aquele caminho: segue o caminho do bem, da qualidade de vida, da honestidade, do trabalho e da cooperação entre seres humanos. As escolhas políticas ou religiosas nascem dos próprios indivíduos. Podem dar o título que quiserem para o Aníbal, mas para mim ele é um administrador público por excelência, que fez da educação o instrumento de transformação da comunidade. Eu, como extensionista rural, conheço comunidades no Amapá, Bahia, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Goiás, etc., e sinto falta dessa continuidade obstinada. As pessoas atuam como técnicos, esporadicamente, depois vão embora. O educador Aníbal não. Casa Grande é um exemplo para os administradores públicos, para aqueles que têm a responsabilidade de ajudar na construção das pessoas, das comunidades, da sociedade.
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